13 de junho dia de Santo Antonio - O caminho é a vida de Santo Antônio
- Nando LHP
- 13 de jun. de 2018
- 6 min de leitura

Nasce em Lisboa de família notável e importante, por volta de 1190, conforme as pesquisas de peritos antonianistas. É filho de Antônio Martinho de Bulhões e dona Maria Tareja Taveira. Foi batizado com o nome de Fernando Martins de Bulhões. Vive uma infância comum em uma família tradicional lisboeta e ingressará na escola da Catedral, onde aprende a ler, escrever, contar, cantar, lógica e retórica, além da Gramática Latina, até os seus quinze anos. Entra para o mosteiro de São Vicente de Fora, dos cônegos regrantes de Santo Agostinho por volta de 1209. Permanece aí por dois anos. Pede para ser transferido para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, no final de 1210 quando tinha 20 anos. Ali continua seus esmerados estudos no que há de melhor em tradição científica à época. Está plenamente integrado à vida medieval portuguesa e ao que havia de mais erudito na Academia. Lê os textos bíblicos, as obras dos santos padres, particularmente Santo Agostinho, as enciclopédias de seu tempo, como as de João Cassiano, os “Libri Etymologiarum” de Santo Isidoro de Sevilha, os códigos legislativos e os manuais de pregação e história. É um sempre inquieto jovem em busca de mudança e aventura. Conhece certamente os franciscanos que chegaram a Coimbra em 1210 e talvez conheceu os frades que no Marrocos foram martirizados em 16 de janeiro de 1220. Com 30 anos de idade sente-se chamado a uma opção radical em sua vida. É padre faz pouco tempo (entre 1218 e 1219) e decide tornar-se frade menor e caminhar pela vida errante de missionário da Palavra. Pede para ser enviado para evangelizar os sarracenos no Marrocos, o que será um fracasso, pois de lá volta doente e fragilizado e por uma questão fortuita (ou será divina?) seu barco no retorno para Portugal irá parar nas costas da Sicilia, perto de Messina, depois de uma tempestade feroz, encontrando abrigo no conventinho dos franciscanos. Era a primavera de 1221, quando se une aos companheiros de Francisco de Assis, tornando-se frade mendicante e assume o nome de Antônio. Viverá um ano no eremitério de Montepaolo, onde faz a experiência da vida contemplativa. Ali realiza a sua bela síntese entre vida ativa e contemplativa. No verão de 1222 revela-se como um pregador breve e profundo, prendendo a atenção e o coração de todos os ouvintes. Têm privilegiada memória, vastíssima cultura e arte oratória brilhante. Torna-se o primeiro professor da Ordem. Este é um bilhete autêntico de São Francisco: “A Frei António, meu bispo, Frei Francisco envia saudações. Apraz-me que ensines Teologia aos frades, contanto que por tal estudo não extingas o espírito de oração e devoção, como está contido na Regra”. Passa a ensinar em Bologna, na Itália do norte, por um breve período. Fica por três anos na França entre 1224 e 1227, especialmente na região sul, percorrendo Toulouse, Montpellier, le Puy, Brive e Limoges, enfrentando de frente aos hereges albigenses, realizando cursos de curta duração em cada convento por onde passou e sempre pregando. Demonstra qualidade excepcional na arte da pregação e passa a ser a voz que clama pelas estradas e povoados, durante os últimos anos de sua breve e fecunda vida, como precursor da Escola Teológica franciscana. Enfrenta a heresia dos cátaros, juntamente com homens brilhantes como São Domingos de Gusmão, fundador da ordem dos pregadores. É homem compreendido por todos, pois se esmera em fazer-se entender pelos mais simples e incultos. Conhece abundantemente e de memória os textos sagrados e muitos dos comentadores da época. Prega por toda a Itália, França, Espanha, fazendo imensas multidões pararem sua vida cotidiana para ouvi-lo e mudarem de vida e atitudes. Ao voltar para Assis participa da Assembleia Geral da ordem franciscana, em 1227, quando da transladação dos restos mortais de São Francisco, e lá permanece os dois últimos anos de sua vida em Pádua, no cargo de provincial da Itália do norte, até 1230. Percorre a pé toda a Emilia, Toscana, Lombardia, Veneza, Bolonha, Romanha, Rimini e Pésaro. Na Páscoa de 1228, prega na Basílica de Latrão, em Roma diante do papa Gregório 9º, de cardeais e do povo da cidade eterna. O papa lhe terá atribuído naquele momento o apelido de Arca do Testamento. Morre em Arcela, cansado e doente, a 13 de junho de 1231, por volta dos quarenta anos de idade. Serão as crianças da cidade a gritar pelas ruas: “Morreu o padre Santo! Morreu Santo Antônio!” Assim imediatamente ele será conhecido como “il santo di tutto il mondo”, como dirá o papa Leão 13 em 1895, no sétimo centenário de nascimento. Onze meses após será canonizado santo da Igreja, pelo papa Gregório 9º, em 30 de maio de 1232, dia de Pentecostes. No dia de sua canonização o papa canta a antífona dos doutores: Oh, Doctor optime. E promulga a bula da canonização Cum dicat Dominus por todo o orbe católico, convencido esta o papa de que Santo Antônio é capaz de “iluminar a Igreja inteira”. Será reconhecido solenemente como doutor da Igreja, por Pio 12, pela carta apostólica Exulta Lusitania felix, em 16 de janeiro de 1946, na festa dos protomártires franciscanos. Antônio de Lisboa e Pádua é um pregador itinerante, talvez o maior que toda a Idade Média tenha conhecido e apreciado, figurando entre os maiores comunicadores de todos os tempos. Seu teólogo e guia será Santo Agostinho, de quem beberá as intuições teológicas fundamentais. E recorrerá a São Bernardo para expor as profundezas da mística cristã. Ele prega a pobreza e a penitência, reconforta os que sofrem, critica acidamente aos ricos (especialmente por conta do pecado da usura e da avareza) e é duríssimo contra padres relapsos e carreiristas, conclamando a todos a uma vida evangélica. Há inclusive nas legendas de sua vida, guardadas pelos franciscanos, cenas de sua pregação aos peixes, que se agrupam para ouvi-lo atentamente, na cidade de Rimini. António lhes fala do Deus Criador e lhes dá sua benção. Esta história certamente remete à do pai Francisco que pregou aos pássaros que ouviram-no, quietos e atentos, até que lhes desse a ordem para voar. Francisco e Antônio são missionários e pregadores evangélicos de primeira grandeza. Ensinam que viver é caminhar seguindo Jesus pobre. E que é neste caminho que fazemos a vida ganhar sentido pleno. Durante dois séculos o culto e a memória de Santo António ficaram na sombra do Poverello de Assis, São Francisco. A partir do século 15 e, sobretudo, a partir do século 16, sua memória e culto, focados em Pádua, começam a expandir-se assombrosamente por toda a Europa Ocidental. Portugal o torna patrono nacional e “exporta” o santo para todos os cantos do planeta onde as suas caravelas e navios chegassem. Marinheiros, náufragos e prisioneiros o tomam como protetor e defensor. Sobretudo, as classes populares por toda a cristandade colonial faz dele santo de predileção e devoção. A partir do século 17, muitos passam a invoca-lo para encontrar objetos perdidos, ou a saúde perdida e por fim para todas as causas de difícil solução na vida e no amor. Antônio se torna um intercessor importante na fé e no catolicismo popular devocional. Isso faz com que seja o mais famoso dos santos e ao mesmo tempo o mais desconhecido entre eles. Quase ninguém hoje saberá dizer nenhum de seus sermões e talvez jamais tenha lido algum deles. Estranho e paradoxal destino daquele que se quis sempre um modesto companheiro de Francisco e um fiel pregador da palavra dos Evangelhos. Hoje é no Brasil certamente um dos santos de devoção mais expandida pelo país. Hoje trinta e quatro municípios brasileiros tem seu nome. Aqui chegou a devoção dos portugueses expressa em quadrinhas como esta do povo do Minho: “Santo Antônio tem um nicho, a cada canto de aldeia; reza-lhe o povo à noitinha, depois de comer a ceia”. No Brasil a devoção se fez tão forte que até tivemos um Santo Antônio negro! Diz Luiz da Câmara Cascudo: “Muito venerado pelos escravos do Brasil era o Santo Antônio de cor preta. Creio que não se trata do Santo Antônio de Noto, mas a devoção e carinho dos escravos seriam ao verdadeiro Santo Antônio de Lisboa, com o pigmento escuro, que o aproximava dos seus amigos escravos (verbete Santo Antônio Preto, in: Dicionário do Folclore Brasileiro, Belo Horizonte: Itatiaia, 1993, p. 63)”. No Brasil, nosso santo com o rosto do povo negro. Se fez negro, com os negros. Pobre, com os pobres. Foi abrasileirado o santo luso-italiano. Virou brasileiro. Este culto antonino se expande por todo Brasil, nas orações e trezenas ao santo, em que se declamam trovinhas como esta: “Quem milagres quer achar, contra os males e o demônio, busque logo a Sant´Antônio, que só há de encontrar. Aplaca a fúria do mar, tira os presos da prisão, o doente torna são, o perdido faz achar. E sem respeitar os anos, socorre a qualquer idade; abonem esta verdade, os cidadãos paduanos”.
*Santo Antônio, o amado Santo desconhecido! Prof. Dr. Fernando Altemeyer Jr, publicado na Revista O Mensageiro de Santo Antonio
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